Porque é fundamental o tratamento acústico em auditório

Você reparou como um auditório bem arquitetado traz conforto ambiental, exige muito menos esforço de quem se apresenta e, às vezes, até dispensa a sonorização eletrônica?
A primeira referência escrita que temos sobre estudos acústicos data do Século I aC. em materiais onde Vitrúvio julga que a geometria dos teatros gregos e romanos estava baseada em um estudo prévio da acústica, nos gregos explorada em forma de leque e nos romanos de arena.
Mas somente no Século XX é que estudiosos começaram a compreender como o formato e volume das salas influenciam a qualidade acústica do ambiente. Se você quiser saber mais sobre esse ponto, veja nosso artigo sobre acústica nas igrejas.
Fato é que em todas as épocas foram construídas salas com acústica melhor ou pior e aquelas que geraram ambientes mais agradáveis aos ouvidos são as que resistiram mais às mudanças ao longo do tempo.
Está bastante claro que esse desempenho excepcional de auditórios bem estruturados é resultado de uma arquitetura pensada junto com a acústica, como um processo único (acústica arquitetônica). Dessa maneira, a definição de formas (geometria e volumetria) geram a base de uma boa acústica, que se torna perfeita com a escolha dos melhores materiais de construção e acabamento.
O que faz um auditório propiciar conforto acústico?
Conrado Silva de Marco em seu livro “Elementos de acústica arquitetônica” afirma que a acústica arquitetônica é focada em duas áreas: a defesa contra ruídos, eliminando ou tratando barulhos externos ao ambiente por meio de isolamento acústico, e o controle de sons ambientes para a preservação da qualidade e inteligibilidade da comunicação, evitando problemas como ecos, ressonâncias e reverberações excessivas.
Assim, em um auditório que gera conforto acústico deve ser construído, desde seu projeto levando em conta o seu formato e materiais. São as formas irregulares e difusoras de superfícies que influenciam na reverberação sonora de acordo com sua distribuição local.
Geralmente, auditórios são locais fechados localizados estrategicamente para evitar a absorção de ruídos externos. A maioria não tem janelas e quando estão presentes, elas são especiais para isolamento sonoro. As portas costumam ser pesadas e, muitas vezes, fechadas hermeticamente, impedindo o vazamento de sons entre os ambientes. Internamente, os auditórios costumam ter forros absorventes e todos os pisos ao seu redor também têm tratamentos para isolamento acústico.
Tudo isso é para garantir um melhor desempenho da reverberação do som no ambiente, que, conforme Conrado, quanto maior o tempo de reverberação no ambiente, menor a inteligibilidade do som.
Mas, como saber qual o melhor formato para um auditório ter conforto acústico?
Para um auditório ser agradável e eficiente, ele precisa ser silencioso, além de bonito e confortável.
Mas, de acordo com o tipo de uso definido para o auditório, os critérios técnicos de capacidade, distâncias e outros ligados à qualidade acústica e cenotécnica variam. Ou seja, as necessidades acústicas para palestras são diferentes daquelas para teatro, que, por sua vez, são distintos do que shows de música precisam e assim por diante.
Por conta disso, é preciso conhecer as características e usos pretendidos para o auditório antes mesmo de sua projeção inicial, pois é impossível projetar um auditório que atenda com perfeição todos os tipos de uso para oradores e plateias.
Saber para que usos o auditório será destinado afeta todo o projeto, afinal essas decisões devem guiar sua localização dentro do edifício para evitar trocas de ruídos entre ambientes e outros.
O formato de anfiteatro, por exemplo, costuma ser uma boa solução para auditórios destinados a palestras, debates ou mesmo teatros. Mas, a falta de reflexões acústicas nas laterais pode ser prejudicial para um show de música.
Há diversos formatos, além do anfiteatro grego, para definir a melhor disposição do auditório em relação à sua função e eficiência acústica, como arena, elisabetano (palco à inglesa), italiano (teatro com proscênio) e teatro múltiplo. Por isso, é fundamental que o arquiteto tenha conhecimento do uso destinado ao local para criar um auditório com eficiência acústica e ótimo conforto ambiental.
Para ilustrar a importância e consequências dessa escolha, o escalonamento de piso é um bom exemplo. Escalonar o piso, além de trazer melhor visibilidade para a plateia, traz uma melhor recepção sonora do som vindo do palco e, por fim, evita o paralelismo entre piso e teto.
Ajustes de distância entre o palco e a última cadeira também influenciam a qualidade acústica e a definição da inclinação do piso e sua relação com um balcão. Essas disposições podem trazer eficiência ou sérios problemas acústicos.